CAAL 2009 Pozuzo
Siebtes Treffen der deutschsprachigen Gemeinschaften
Lateinamerikas
Sétimo encuentro de las comunidades de habla alemana
de América Latina
Identidades descaracterizadas ou
roubadas
O conceito de «Identidade Cultural» é
necessariamente amplo, quando analisamos as perseguições lingüísticas,
religiosas, políticas, econômicas e educacionais aos teuto-brasileiros, antes,
durante e após a Segunda Guerra Mundial. No campo material os imigrantes e seus
descendentes tiveram seus bens desapropriados. As escolas e seus terrenos,
motocicletas dos pastores, rádios, bibliotecas eram desapropriados pelos
policiais. Até cemitérios foram desapropriados e túmulos, com sobrenomes alemães
na lápide, destruídos. (Fatos de tal ordem também aconteceram aos ítalo e
nipo-brasileiros. En outros países estas três etnias e culturas sofreram
idênticos ataques.).
È interessante lembrar que – no caso do Brasil –
os imigrantes alemães desde a sua chegada oficial ao Brasil em 25 de Julho de
1824, tiveram una grande preocupação com «ESCOLAS», que aqui não existiam.
Para não verem seus filhos e netos se criarem, todos, analfabetos, puseram mãos
à obra e construíram ESCOLAS às próprias custas. E também pagavam os docentes.
Foi assim que surgiram as ESCOLAS COMUNITARIAS (Gemeindeschule) e as ESCOLAS
PAROQUIAIS (Pfarrschule), todas custeadas pelos pais dos alunos.
Diante do total descaso das autoridades
brasileiras da época, era natural que aqueles pioneiros «se agarrassem onde era
possível ...!» Da Alemanha receberam valiosas colaborações, notadamente através
das Igrejas = Católica e Evangélica (IECLB). E inúmeros docentes também vieram
da Alemanha e aqui alfabetizaram gerações. (O meu finado pai nascera em 1923 e
foi alfabetizado por uma freira alemã. E obviamente, esta alfabetização foi no
idioma alemão e com letras góticas alemãs. Com muito zelo e carinho eu guardo a
sua Grammática elementar da LINGUA ALLEMÃ ..., que era o livro texto da
época. E o ensino era direcionado à REALIDADE LOCAL da época.
Durante o «Estado Novo = Ditadura Vargas», do
hoje para o amanhã passou-se a exigir dos imigrantes e seus descendentes o que
durante mais de um século sempre lhes fora negado, ou melhor, «nem levado em
conta ...!» Era proibido falar alemão! E português não sabiam ... Afinal, iriam
aprender português «ONDE ...?!» E com «QUEM ...?!» E a perseguição àquela gente
foi algo terrível. Poucas foram as pessoas, que conseguiram continuar vivendo em
paz naquele período, que não tiveram algum tipo de prejuízo.
No Estado de Santa Catarina, o então
«lnterventor = espécie de ‹Governador Biônico›, Nereu Ramos», ordenou o
fechamento de mais de 400 ESCOLAS ALEMÃS, ITALIANAS e POLACAS, que eram de boa
qualidade e que os «nacionais» também podiam freqüentar. E em nome dum
«esquisito nacionalismo ignorantizador» não conseguiu abrir nem 200. Eram
ESCOLAS, que o Estado não construíra e na grande maior parte delas não pagava os
docentes ...! Não sei o número de ESCOLAS FECHADAS no Estado do Paraná, nem no
Estado Gaúcho. Só sei que neste, o número foi maior que em Santa Catarina.
Os resultados práticos disso tudo foi «UMA QUASE
GERAÇÃO DE ANALFABETOS"; pessoas traumatizadas, feridas em seus brios, na sua
cultura, em suas convicções religiosas e em tudo o que dizia respeito ao seu
DIA-A-DIA ... (Ainda é interessante relembrar o seguinte: «A Imigração Alemã
teve início em 1824! O Registro Civil só passou a existir a partir da
Proclamação da República, em 1889. Portanto, até aí, nem ‹Brasileiros› podiam
ser ... (...!)! Até aí, ‹O Padre (=Sacerdote Católico)› fazia tudo ... Os
Evangélicos só tiveram seus ofícios reconhecidos a partir de 1867 ... É possível
a gente entender tal «CONTEXTO NACIONAL ...?!?!»).
Falar Alemão, ter um sobrenome Alemão
e outras características Alemãs, eram um
constante motivo para deboches, desprezos e humilhações. E em muitos casos eram
motivos para prisões, espancamentos, cobranças de ‹multas abusivas› e
outros maus tratos, que levaram inúmeras pessoas à morte ... É!
Espalhou-se a falsa idéia de que «a Língua
Alemã e a Italiana atrapalhavam o aprendizado da Língua Portuguesa ...!!!»
(... O Inglês e o Francês da época não atrapalhavam ...!) «Quem aprendeu
Alemão por primeiro, nunca falará bem o Português ...» E ainda: «O
Alemão é muito difícil! Quem não o aprende desde o berço, nunca o saberá em
nível regular ou BOM ...!» (... A solução era, pois, deixar de falar alemão
e impedir que as crianças aprendessem este idioma, de tão RESPEITÁVEL CULTURA, e
que tanto tem a nos oferecer ...! Isto foi uma «PUNHALADA CONTRA ESTA CULTURA»,
pois de todos os aspectos duma CULTURA – o mais importante de todos – é
exatamente o IDIOMA, pois é através dele que tudo nos é repassado.
Pessoas, que falavam Alemão, eram vistas como
«atrasadas culturalmente», ou até como «não bons brasileiros ...» Era algo
vergonhoso. E de tantos deboches e humilhações, muitos teuto-brasileiros se
envergonhavam – passavam a sentir vergonha – das suas origens. Deixaram de falar
Alemão, bem como de rezar e cantar neste idioma. As novas gerações cada vez
menos recebem os benefícios desta rica Cultura.
Paralelo a estes descalabros, difundiu-se a
idéia de que na disciplina «Língua Portuguesa» ninguém poderia obter a
«NOTA MÁXlMA ...!» (Nas disciplinas Inglês e Francês podia-se obtê-la ... Vejam
que absurdo!) Portanto, se os idiomas ALEMÃO e ITALIANO eram incompatíveis com o
PORTUGUÊS, a única saída era, pois, dar a máxima ênfase à Língua Portuguesa e
excluir a Italiana e Alemã. Se falar Alemão e Italiano era coide ‹GROSSO›,
esnobar um pouco de Francês ou Inglês macarrônico,
era «status». (Isto, é claro, na mente de pessoas ignorantes e preconceituosas
...!)
O CANT0 CORAL, que também fora trazido ao
Brasil pelos imigrantes alemães, está cada vez mais «empalidecendo ...!» O mesmo
pode-se dizer dos Centros Culturais 25 de Julho ... (Neste particular, nota-se
que os ítalo-brasileiros não se deixaram intimidar tanto.) Muitas sociedades de
Cultura Alemã têm vergonha de entoar cantos neste idioma, por «ser MUITO DIFÍCIL
...!» (Em 19.09.2009, na cidade catarinese de Pinhalzinho – próxima a Maravilha
– realizou uma «FESTA ITALIANA», onde 9 corais se apresentaram, entoando 3
cantos, cada. Dos 27 cantos apresentados, apenas 5 não eram em Italiano ... E em
FESTAS ALEMÃS, quantos cantos são em Alemão ...?!?!) A FALTA DE IDENTIDADE
CULTURAL é cada vez mais notável.
Mas também no CAMPO RELIGIOSO houve ataques
violentos contra tudo o que disses-se respeito à germanidade. Sacerdotes
católicos, oriundos da Alemanha, chegaram ser presos, ou no mínimo «vigiados
de cima ...!» Pastores evangélicos, então, chegaram a «SER PRESOS DURANTE
CELEBRAÇÕES DE CULTOS ...!» (É interessante lembrar que – naqueles tempos –
assim como o LATIM era a Língua Oficial da Igreja Católica, o ALEMÃO era a
Lingua Oficial da Igreja Evangélica ...) Nem a CASA DE DEUS respeitavam ...!
Mas os abusos e autoritarismos não paravam por
aí. Igrejas Evangélicas eram fechadas, ou transformadas em postos policiais. Em
diversas comunidades o DESRESPEITO, contra os Evangélicos extrapolava
todos os limites. Ex.: Realizar batizados simbólicos de cavalos dentro de
Igrejas ..., além de outros atos, que atentavam «despudoradamente contra a
higiene ...!»
As agressões contra a CULTURA ALEMÃ foram
notados em outros setores, também. Ruas com nomes alemães – até mesmo municípios
– tiveram seus nomes trocados, aportuguesados ou traduzidos. Ex.: Dreizehn
Linden = Treze Tílias, Neu Hamburg = Novo Hamburgo, New Wüttemberg = Panambi
e outros tantos. Firmas de médio a grande porte, não podiam ter nomes alemães.
(Também houve exceções, é claro.) Ex.: Em Pelotas-RS, o estabelecimento
comercial «Ferragem Nieckele» passou a chamar-se «Ferragem Americana».
Em Joinville-SC, renomada «Metalúrgica TUPY» – da tradicional
Família Schmidt – por uma questão de «nacionalismo
estado-novista» não recebeu o nome da família proprietária ...
Autoridades e «... escritores ...» não poupavam
escárnios e todas as formas de humilhar e / ou diminur tudo o que tivesso AROMA
DE ALEMÃO, ITALIANO, JAPONÊS e também outros, que não fossem luso-brasileiros.
(Salvem-se honrosas exceções.) O Tenente Coronel Aurélio da Silva Py, Eraldo
Rabelo, Walter Spalding, Cordeiro de Farias e Nereu Ramos foram alguns dos mais
notórios germanófobos. Paralelo a tudo isso é deveras interessante lembrar que,
até 1939, quando «GETÚLIO VARGAS flertou com ADOLF HITLER», o nazismo era aceito
publicamente, e com toda a naturalidade, no sul do Brasil. (Getúlio Vargas,
Hitler e todos os ditadores daquela época – ‹ideologicamente falando› – eram
«VINHO DA MESMA PIPA». Eram denominados «Executivos Fortes, para não dizer
Ditadores ...»
Neste quadro novo – antes, durante e após a II
Guerra Mundial – podese imaginar o ESTADO DE ÃNIMO, a AUTOESTIMA daquelas
pessoas, debochadas e desprezadas publicamente, arcando com toda sorte de
prejuízos e hurtilhações. Simultaneamente teve início a tão badalada
«Americanização ...!» (Casas em ‹estilo americano›, ‹cozinha americana› – em
suma – o «American Way of Life» substituiu o «Modus Vivendi» até
então em MODA ...) En termos econômicos e culturais, os americanos passaram a se
impor cada vez mais, em detrimento de outras culturas.
Como uma coisa sempre puxa a outra, com a
AMERICANIZAÇÃO em alta, a GERMANIDADE entrou em declínio. E o que era pior,
muitos teuto-brasileiros passaram a se desinteressar por tudo aquilo que dizia
respeito às suas origens, às suas RAÍZES CULTURAIS. E chegavam até a sentir
vergonhadelas ...
As «SOCIEDADES ORGANIZADAS» (recreativas e
culturais) começaram a perder terreno. Juventude sempre menos preocupada em
«ASSUMIR COMPROMISSOS ...!» O «Verein» (Clube, Associação) passou a ceder
lugar aos «LIONS», «ROTARY», «CÂMARA JÚNIOR» e outras do gênero, todas de origem
«anglo-saxônica-americana ...!»
Esta nova situação teve profundas influências em
muitas pessoas, a tal ponto de muitas – algumas por desânimo e outras tantas
para se verem livres das sistemáticas e desumanas perseguições –
‹aportuguesaram›,
‹traduziram› ou simplesmente adotaram outros
sobrenomes. Vejamos alguns exenplos: Burger, Berger ... Borges; Lehmann (Lema)
... Lima; Freitag ... Freitas; Beckmann
... Bequimão; Martens ... Martins; Clemens, Klement ...
Clemente; Karnhofer ... Canofre; Korn ... Corne; Kurt ... Curte; Ludwig
... Ludovico; Hase ... Coelho; Krieger ...
Guerreiro; Wolf ... Lobo; Löwe ...
Leão; Kaiser ... Cézar; Schmidt ...
Ferreira; Keil ... Cunha; Kreutz ...
Cruz; Bach ... Ribeiro; Holz
... Madeira.
A adoção de outros nomes (pseudônimos) eram
formas de muitos intelectuais escaparem dessas perseguições. Um caso típico, foi
o do renomado Escritor, Professor, Palestrante, GERMANO ALBINO JUNGES,
gaúcho de Tupandi-RS, autor de 21 livros, que não pôde editar seu primeiro livro
pelo fato de ter tido um sobrenome alemão: «JUNGES!» Foi então que ele
pensou: Junges – Jung = Novo, Novaes ... Foi por isso que o escritor
GERMANO AIBINO JUNGES virou «Germano de Novaes ...!» (Eu e a nossa
Família toda – com muita honra – tivemos o privilégio de conhecer GERMANO DE
NOVAIS pessoalmente. E quando ele vinha a Maravilha, seu ponto de parada era na
nossa modesta «casa de Professor», na Rua Santa Catarina, 120. E quando eu ia a
Canela-RS, a sua Casa de Pedra «STEINHAUS» era o meu ponto de parada ... Era um
homem muito culto e educado. Tinha uma PALAVRA para cada Humana Criatura. Falava
fluentemente SEIS (6) idiomas. Nem assim pôde se ver livre dos GERMANÓFOBOS
(Deutschenfresser) de idos tempos ..., usando, contra a propria vontade, um
«pseudônimo literário», que lhe permitiu alcançar o sucesso, que efetivamente
conseguiu ...) Germano de Novais faleceu
tragicamente em acidente de trânsito, no dia 26 de maio de 2006.
Caso semelhante ao de GERMANO DE NOVAIS,
aconteceu com outro intelectual argentino – também escritor – HUG0 WAST. Para
poder continuar trabalhando em seu ofício a dotou o pseudônimo literário
«GUSTAVO MARTINEZ SUVIRIA». E daí, tudo bem ...!
Sei de outro caso, ocorrido na Austrália
(segundo reportagem da TV DW), um imigrante alemão, dono duma empresa, que
empregava cerca de 200 empregados. Após a II GM teve de traduzir o seu sobrenome
– «Schneider = alfaiate = sastre = ‹Tailor›. Estes abusos de autoridade, não
aconteceram APENAS NO BRASIL ... (...!)! As DESCARACTERIZAÇÕES e ROUBOS DE
IDENTIDADES aconteceram noutros países, também. Isto é deplorável.
Além do que hoje afirmam os lingüistas pelo
mundo a fora, a UE incentiva sempre mais a «Educação Bilingüe!» Aqui mais perto
de nós, no sul do Brasil, na Comunidade de São João do Oeste-SC, 93% das pessoas
sabem falar alemão. É o município mais alfabetizado e mais bilíngüe do Brasil.
(SJO está representado neste VII CAAL, em Pozuzo.)
Prof. Altair Reinehr
Lingüista e Membro da Associação Nacional de
Pesquisadores da História das Commidades Teuto-Brasileiras
Rua Santa Catarina, 120, 89874-000, Maravilha-SC,
Brasil
reinehr-prof.altair@hotmail.com |
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